Por Gerson Rodrigues
Liderança é um assunto que faz parte da vida do homem desde os mais remotos tempos. Melhor ainda: O exercício de liderar está presente no universo desde que as primeiras sociedades foram formadas. Desde a Era Mesozóica em seu período cretáceo se tem notícias de comportamentos sociais que redundam nas atitudes de liderar e ser liderado.
Se tomarmos como exemplo um minúsculo animal: a formiga, vislumbraremos uma sociedade estruturada em
castas e hierarquias muito bem definidas: A Rainha (única fértil), os machos
férteis (Reis) que morrem após a cópula, as operárias, que são estéreis e se
subdividem para várias atividades. As que possuem mandíbula grande e são
maiores que trabalham como soldados, defendendo o formigueiro. As formigas
cortadeiro-carregadoras são de tamanho médio e trabalham cortando e coletando
as folhas, carregando-as até a colônia. Há também as jardineiras que atuam
dentro da colônia, cuidando dos fungos e das crias.
Fica evidente pela descrição acima que a natureza dotou
esses pequenos animais com uma inteligência básica que permite o exercício da
convivência de uma forma mais harmônica e agradável. E isto só é possível
porque eles praticam com maestria a liderança em seu cotidiano. E esse processo
se repete em várias outras espécies. Ora, todos sabemos que tudo na natureza
tem um propósito, que nada existe por acaso e que todos os sistemas coexistem ou devem
coexistir harmonicamente. Podemos inferir então que a liderança está presente
em nosso planeta muito antes do homem, e que é intenção de Deus que suas
criaturas sigam essa lógica natural e convivam em equilíbrio e harmonia. De
fato, sem liderança, essa intenção não se realiza.
Por que então, para o homem, o título deste artigo se
aplica de forma contumaz? Por que, para nós, “pobres humanos”, exercitar a
liderança é algo extremamente desafiador e doloroso por vezes? Se integramos a natureza, e nela os meandros da
convivência entre semelhantes são fluídos e naturais, porque em nossa espécie,
essa naturalidade não se repete?
Tenho dedicado minha vida ao estudo do comportamento
humano, e, presunçosamente penso ter a resposta aos questionamentos
anteriormente levantados. Convido-o a uma importante reflexão. É sabido que
nosso córtex é disparadamente o mais evoluído entre todas as espécies de que se
têm notícia. A ciência afirma que não há outro animal que tenha CONSCIÊNCIA da
própria existência, a não ser o bicho homem. Possuímos instintos e emoções como
tantas outras criaturas, mas o que nos difere de um chimpanzé por exemplo é um atributo exclusivo denominado
RAZÃO que tem suas funções neurobiológicas localizadas na casca superior
desenvolvida através de milhares de anos: O neocórtex. Somos especiais, escolhidos, diferenciados.
No entanto, é justamente essa capacidade peculiar do ser
humano que o torna tão confuso e desastroso em vários contextos e que impede o
pleno exercício da arte de liderar. Em seu livro “Como se tornar um líder
servidor”, James C Hunter assim define liderança: “A habilidade de influenciar
pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns,
inspirando confiança por meio da força do caráter”. Perceba que é um belo
conceito, que nos remete a valores, crenças, relacionamento, convivência
equilibrada, poder de persuasão,
qualidades inconscientes. E tudo isto seria muito fácil de ser praticado, não
fosse uma palavra inerentemente humana: SIGNIFICADO. As pessoas dão às
experiências que vivem no cotidiano as mais diversas interpretações, e não há
dois cérebros que interpretem um mesmo fato da mesma maneira. E essa capacidade
é estritamente cortical, ou seja, reside no córtex. Na tentativa de coexistir,
os membros de qualquer grupo (família, escola, empresa, sociedade) irão
representar suas experiências em seus cérebros, formando mapas únicos, pessoais
e intransferíveis. As experiências são compartilhadas, os significados não. É
por isso que a PRIMEIRA GRANDE HABILIDADE de um líder humano deve ser:
COMPREENDER como seus liderados estão INTERPRETANDO o que estão vivendo naquele
exato instante. Uma vez que o “cabeça” de um grupo SAIBA o que se passa nos
córtex de seus liderados, será mais fácil compreender as motivações de cada um,
e assim, através da linguagem e de comportamentos personalizados, mobilizar
atitudes entusiásticas para a consecução de objetivos comuns, inspirando
confiança e resultados mensuráveis. Mesmo a palavra caráter apresentada na
definição por James Hunter está submetida ao mapa de cada componente do time. A
minha definição de caráter pode não coincidir com a sua... Se fôssemos membros
da mesma equipe, poderíamos estar praticando comportamentos diferentes, ambos
acreditando estar alinhados com o valor que sustenta nosso relacionamento.
Em resumo, podemos mesmo afirmar que o BOM EXERCÍCIO da
liderança começa com a “garimpagem” das mentes que formam o time para desvendar
os segredos que estão cuidadosamente guardados na caixa craniana.
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